Oh! Provai e vede que o Senhor é bom!

Presbiterianos entram de joelhos no ano 151 de sua caminhada em solo brasileiro

29/12/2009 04:34

As Escrituras Sagradas incentivam o registro e o estudo da história. Moisés, por exemplo, deveria preparar um relatório por escrito das batalhas dos israelitas contra os amalequitas (Êx 17.14), deveria guardar para a posteridade dois litros de maná, a vara de Arão que floresceu e as duas tábuas de pedra onde estavam escritos os dez mandamentos dentro da Arca da Aliança (Êx 16. 33; Hb 9.4), e deveria organizar festas religiosas para celebrar a mão de Deus nos eventos da história (Dt 16. 1-7). No conceito cristão, a história só tem algum valor se conduzir os crentes à gratidão, à adoração e ao aperfeiçoamento, pois é sempre possível aprender com os erros e com os acertos daqueles que viveram antes de nós. Se a história produzir qualquer tipo de soberba será um desastre, porque “quem constrói portas altas está procurando a sua ruína” (Pv 17.19).


As comemorações dos 150 anos de fundação da Igreja Presbiteriana do Brasil, realizadas no Rio de Janeiro no dia 12 de agosto de 2009, foram realmente edificantes, renovadoras e evangelizadoras.

Culto cívico-religioso
Com a presença de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, de Sérgio Cabral, governador do Estado do Rio de Janeiro, de Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio de Janeiro, e de outras autoridades, realizou-se na manhã do dia 12 de agosto de 2009, na Catedral Presbiteriana do Rio, o culto cívico-religioso de ações de graças pelo sesquicentenário da chegada de Ashbel Green Simonton ao Brasil.

Depois de constituída a mesa e da entrada solene da bandeira brasileira, trazida por um grupo de fuzileiros navais em uniforme histórico, e antes da leitura do Salmo 117 e da entoação do hino nacional, Guilhermino Cunha, pastor da igreja hospedeira, convidou um casal de jovens missionários entre os ianomâmis para entrar e assentar-se nas duas únicas cadeiras ainda vagas. Foi uma agradável surpresa, pois André Luís e Marcelle Aureliano, vestidos com roupas do século 19, estavam representando o casal Ashbel e Helen Simonton. Como se fosse o próprio Simonton, André fez um pequeno discurso em inglês saudando os brasileiros.

Em sintonia com a exortação de Paulo para que se ore por todos aqueles que exercem autoridade (1Tm 2.2), Roberto Brasileiro, presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, intercedeu pelos poderes executivo, legislativo e judiciário do país.

A mensagem foi entregue por Ludgero Bonilha de Morais, secretário executivo do Supremo Concílio e pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte. De início, o pregador anunciou que Simonton não veio ao Brasil para trazer uma nova religião, mas para pregar a reforma da religião: “Chegamos ao Brasil para afirmar que a verdade está solidamente firmada nas Escrituras. Reconhecemos as contribuições de pessoas como Martinho Lutero, John Knox e particularmente João Calvino, mas estes mesmos encontraram seu ensino e fundamentaram suas pregações nos gigantes da fé que vieram antes deles, tais como Anselmo e Agostinho e, de forma última e primária, em Paulo e nos ensinos de Jesus Cristo”.

Ludgero Morais falou sobre a suficiência das Escrituras, o ministério sobrenatural e subjetivo do Espírito Santo, a soberania de Deus, a total depravação da raça humana, a expiação realizada por Jesus na cruz e a maravilhosa graça. Lembrou que esses eram os pontos principais da pregação de Simonton na corte na década de 1860. Ao se referir à graça de Deus, Ludgero usou a consagrada expressão “graça irresistível”, de fato muito rica e teologicamente verdadeira. Simonton mesmo foi alcançado por essa graça irresistível no primeiro semestre de 1855, pouco depois de comemorar seu 22º aniversário. Toda a bagagem evangélica recebida no lar e nas escolas presbiterianas pelas quais ele passou veio à tona com força total quando o jovem estudante de direito foi alcançado por essa graça.

O monumento na Praça Mauá
Logo após o culto, procedeu-se a inauguração de um monumento escultório interativo na entrada do Porto do Rio de Janeiro, onde Simonton e a esposa Helen desembarcaram do navio “Cricket” no dia 16 de julho de 1863, quatro meses depois do casamento realizado em Baltimore, estando ambos com a mesma idade (30 anos). Surpreendentemente, menos de um ano depois, em 28 de junho de 1864, Helen, ao dar à luz seu único filho, morreu de complicações de parto. O próprio Simonton morreu de febre amarela três anos e meio depois (dezembro de 1867). Naquela época, o Brasil era considerado o lugar mais insalubre do mundo e gozava a fama de ser a terra da sífilis. Só em 1850, ocorreram 90 mil casos de febre amarela no Rio, com 4.160 óbitos para uma população de 116 mil habitantes.

Culto de ações de graças
Para agradecer a Deus pela vida e o ministério de Ashbel Green Simonton no Brasil, no curto período de oito anos e meio, compreendido entre agosto de 1859 e dezembro de 1867, a Igreja Presbiteriana por ele organizada promoveu um culto solene na mesma Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro e no mesmo dia 12 de agosto. Entre os presentes estavam os representantes de igrejas presbiterianas da Angola, Bolívia, Chile, Coreia do Sul, Estados Unidos, Holanda, México, Moçambique, Porto Rico e outras, e também de denominações irmãs.

A liturgia do culto misturou vários números de música sacra, executados pelo coral e orquestra Canuto Regis, com a leitura pausada de frases retiradas do “Diário de Simonton”. Entre elas, deve-se destacar o registro de agosto de 1859 (“Sinto-me encorajado pelo aspecto das coisas e esperançoso com o futuro, pois existem indicações de que um caminho está sendo aberto aqui para o evangelho”) e o registro de 31 de dezembro de 1859 (“Agradeço a Deus todos os caminhos por onde me levou e gostaria de estar onde estou, e em nenhum outro lugar, pois este é, creio, meu campo de trabalho”).

A mensagem foi entregue por Roberto Brasileiro da Silva. Depois de ler a última metade do capítulo 32 do profeta Isaías, o pregador explicou que aquele culto era para agradecer pela história da igreja, por tudo que Deus fez “pela” igreja e por tudo que Deus fez “através” dela. Roberto Brasileiro fez um veemente apelo ao reavivamento da igreja: “A igreja presbiteriana em seus 150 anos não experimentou um reavivamento. Temos ouvido falar de reavivamento, somos frutos de um reavivamento, mas ainda não o experimentamos. Nossa oração deve ser: ‘Derrama, ó Deus, sobre nós o teu Espírito’. Que a Igreja Presbiteriana do Brasil seja conhecida não simplesmente como uma igreja bem preparada, mas também como uma igreja que se dobre diante do poder de Deus. O derramar do Espírito já aconteceu. Nós já temos o Espírito, já fomos batizados nele. O que devemos pedir agora é que Deus nos ajude a viver segundo a graça, no dia-a-dia”.

Na mensagem da manhã, Ludgero Morais frisou que “fomos chamados por Deus não para vivermos uma vida emburacada nas cavernas da terra, mas chamados para alimentar o faminto, para vestir o nu e visitar o prisioneiro”. É verdade, mas é preciso reconhecer e confessar que, de modo geral, não temos feito isso com intensidade nem com frequência. Daí o recado da mensagem da noite: o Espírito precisa destronar o nosso eu, o nosso egocentrismo, dar-nos um novo “eu”, uma estrutura nova, graças a qual não vamos olhar para nossa pequena paróquia, mas para o mundo com suas necessidades.

Antes de encerrar o culto, o pastor Teotônio Bragança, que estava presente no culto comemorativo dos 100 anos da Igreja Presbiteriana do Brasil, realizado no mesmo templo em 1959, leu o pronunciamento de Simonton em seu leito de morte: “Deus levantará alguém para tomar o meu lugar. Ele fará o seu trabalho com os seus próprios instrumentos. Nós só podemos nos apoiar nos braços eternos e estar quietos” (dezembro de 1867). Depois, a congregação entoou o cântico composto por um brasileiro (“Alto preço”, de Asaph Borba), e o coro e a orquestra executaram o famoso coro “Aleluia!”, do alemão George F. Handel, composto em 1742.

Roberto Brasileiro teve a feliz iniciativa de convidar todos os presentes a se ajoelharem e orou em nome de todos ao Senhor: “Derrama sobre nós o teu Espírito. Que possamos ter parâmetros sérios em nossa vida... Que a Igreja presbiteriana do Brasil seja uma igreja mais espiritual. Uma igreja com novas estruturas pautadas naquilo que cremos, pautada na justiça, na paz. Quebranta-nos para que possamos amar mais, para que sejamos uma igreja vibrante, de testemunho, de evangelização... Reaviva os nossos corações. Reaviva os nossos púlpitos. Derrama sobre nós, a tua graça”.

Todo o povo disse “Amém!” E assim a igreja fundada por Ashbel Green Simonton em 1859 entrou de joelhos no ano 151 de sua caminhada em solo brasileiro.
 

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